Os Vingadores: A Coroa da Serpente

Outra história muito querida pelo fandom, mas olhada com os olhos hoje é muito básica e com duas narrativas distintas, uma principal com o Esquadrão Supremo e uma secundária com Kang, se estendeu mais do que deveria. Nos quadrinhos atuais seria dois arcos bem definidos, ainda que houvesse algumas páginas no primeiro referenciando um plot secundário. Então, se for lê-la você tem que se abstrair e imaginar-se em 1975, quando a aventura foi feita.


Steve Englehart tinha uma consciência política forte e isto pode ser conferido em Captain America, especialmente no final do arco do Império Secreto, onde as evidências apontam que o líder da seita fosse o Presidente dos EUA. Lá o choque era mostrar um ícone americano (o Capitão América) descobrindo que a corrupção se entranhou em todos os níveis da administração americana.

Já aqui o negócio é contar em histórias em quadrinhos de uma equipe de heróis, que tem uma série de pré-requisitos um pouco diferente da narrativa de um herói solo, uma narrativa de uma sociedade subalterna a uma força maligna e ancestral que deseja dominar politica e economicamente o mundo, na verdade dois mundos, a Terra e a “outra” Terra. Não precisa ir muito longe para perceber a velha teoria da conspiração que alimenta até hoje a cultura pop americana.


Com maior ou menor envolvimento o arco é narrado de The Avengers #141-149 que encerra a trama, mas como um encadernado nacional juntou as edições #150-151 e ali temos uma reunião dos membros para escolher uma nova equipe que seria a marca da equipe nos anos seguintes resolvi incluir. Por sinal as edições #145-146 não fazem parte da trama, e atualmente são inéditas no Brasil.


Quando alguns membros dos Vingadores são atacados por agentes da Roxxon – uma referência nada discreta à petroleira Exxon – os heróis (Capitão América, Fera, Homem de Ferro, Feiticeira Escarlate e Visão) unem à iniciante Patsy Walker (futura Gata do Inferno) para enfrentar os agentes e se deparam com o Esquadrão Supremo (Arqueiro Dourado, Rouxinol, Tufão, Dr. Spectrum e Hyperion), já estabelecido como os maiores heróis da Outra Terra e que estariam obedecendo aos interesses da empresa.
Derrotados, aprisionados e enviados para a Outra Terra, descobrem que lá o presidente é Nelson Rockefeller uma contra-parte de Hugh Jones, diretor da Roxxon, que usa lá se utilizada da mística Coroa da Serpente para dominar a opinião pública e o Esquadrão Supremo.
Ao fugirem após derrotarem o Esquadrão, o Fera insere a semente da dúvida em relação à legitimidade dos atos de Rockefeller nos heróis daquela dimensão.
É a semente da interferência política dos heróis no mundo comum que levaria à série Esquadrão Supremo de Mark Gruenwald.
Uma outra visão da história é analisá-la como uma referência a um possível encontro entre Vingadores e Liga da Justiça, já que o Esquadrão Supremo nada mais é do que uma versão Marvel da equipe da DC Comics. Novamente é aquela trama básica, beirando o ridículo, onde dois equipes de heróis tem um antagonismo temporário, mas se unem em prol de um bem maior, apesar de, aqui, não haver a união, mas sim, uma semente de possibilidade para eventos futuros.
Seria basicamente a união anual entre Liga e Sociedade da Justiça com suas Crises, porém na Marvel. Observe que parte da estrutura narrativa é a mesma da DC Comics com as divisões em equipes, normalmente duplas ou trios, contra um membro do Esquadrão Supremo. Não é uma a imitação da outra, mas apenas a evidência de que os roteiristas americanos são muito rasteiros em termos de narrativa.
No final, a trama pretensamente de domínio de planetas por uma conspiração maligna, vira desculpa e pano de fundo para a luta entre as equipes.
Numa trama secundária, Thor e Serpente da Lua vão ao passado resgatarem Gavião Arqueiro e enfrentam Kang, o conquistador, derrotando-o e aparentemente eliminando a existência de Immortus, uma versão mais madura do viajante do tempo.
Esta trama permite colocar todos os personagens de far-west da Marvel (Billy Blue, Defensor Mascarado, Kid Colt, Cavaleiro da Noite e Ringo) em Tombstone, numa trama em que Kang teria que conquistar a Terra no passado para conseguir o sucesso no presente/futuro.
Ação, belos painéis mas falta um sentido maior .
Publicado no Brasil em Capitão América #79-82 e Heróis da TV #78 e depois em Marvel Saga #01, ambas da Editora Abril.
 
Por Steve Englehart (texto), George Pérez (lápis) e Vince Colletta & Mike Esposito & Sam Grainger & John Tartag (finais)