Escalpo – Nação Indígena

Nação Indígena é um encadernado DC Comics/Vertigo, inédito no Brasil que reúne as edições #01-05 da série Scalped de Jason Aaron & Rajko Milosevic Guéra. No Brasil estas edições da série foram publicadas em Vertigo, a série mensal da Panini Comics, nas edições #01-05 em 2.009/10. Aaron é mais conhecido do grande público por seu texto para Wolverine e uma série do aracnídeo e do mutante canadense, recém-publicada no Brasil em Grandes Heróis Marvel pela Panini.

A série surgiu de um estudo para o relançamento do personagem indígena da DC Comics Scalphunter.

Scalped desenvolve uma trama com várias frentes. Em junho de 1.975 alguns ativistas políticos da Reserva Indígena Rosa da Pradaria em Dakota do Sul (EUA) estiveram envolvidos no assassinato de dois agentes do FBI – Robert M. Bayer e Steve L. Berntson. Baylis Earl Nitz, um dos agentes federais que fazia parte da operação jurou vingança, e com o passar dos anos cresceu na hierarquia da do Escritório de Investigações norte-americano. Apesar dos índios serem inocentados sabe-se que há algo de podre em relação ao duplo assassinato.

No presente a reserva vive em relativa miséria e alcoolismo, mas um dos ativistas Lincoln Corvo Vermelho é o presidente do Conselho da Tribo, delegado, presidente do Comitê de Planejamento, tesoureiro e administração do Cassino Cavalo Louco e vive em luxo, glória e envolvimento com tráfico, prostituição, roubos e todo o pacote. O foco é a estreia de “seu” cassino na reserva, que ao iniciar a série está para acontecer.

Os antigos ativistas se dispersaram, mas Gina Cavalo Ruim ainda está envolvida com o ativismo político. Esta vida a distanciou de Dashiell Cavalo Ruim, seu filho, um rapaz em busca de seu lugar no mundo. Extremamente perturbado, Dashiel buscou a glória nos esportes, na vida militar (foi soldado em Kosovo) e no FBI. Neste momento o Nitz viu uma oportunidade de infiltrá-lo na Reserva de modo a conseguir provas do crime do passado. Aparentemente Nitz o convenceu usando chantagem.

Para completar o bolo, Dashiel, que consegue infiltrar-se e tornar-se agente da Polícia Tribal de Corvo Vermelho, reencontrar Carol, filha do próprio, e um antigo amor, agora consumida por drogas e promiscuidade, capaz de deitar com qualquer homem da tribo.

O encadernado é a soma de dois arcos pequenos, Nação índigena (03 partes) e Hoka hey (02 partes), que serve para apresentar os personagens para nós. Além destes personagens há também um dos ativistas do passado, hoje consumido por décadas de drogas, que tem uma postura de “bicho grilo”. Chamado de Apanhador, apesar de pequena participação nos arcos, o personagem tem vários conhecimentos que ultrapassam sua esfera de contatos, quase todas adquiridos em uma base mística. Apanhador sabe da relação de Dashiell com o FBI.

A questão que irá permear a série é se Dashiel conseguirá provas que irão incriminar XX antes de sucumbir à pressão e ao seu estilo de vida extremista ou a merda irá voar no ventilador, sua condição de agente infiltrado irá vazar e ele terá que lidar com as consequências.

Outra questão é o processo de corrupção a que passa um “honesto” ativista político, representado por Lincoln Corvo Vermelho, que em muitos momentos rouba de Dashiell o papel principal da trama. Este tipo de reflexão vem muito de encontro com a realidade – e este é um dos papéis da literatura. Lembre-se que alguns ativistas brasileiros do período 1960/70/80 tornaram-se nos anos 1.990/2.000 parte do sistema corrupto ou se corromperam assim que chegaram ao poder. Por outro lado, aqueles que não se tem prova de que se corromperam ou ficaram ricos com os favores do estado, simplesmente renegaram a tudo que escreveram antes do poder. Entre estrelas vermelhas e pássaros de bico alongado sabemos que todos são iguais quando chegam ao poder.

O texto de Jason Aaron é afiadíssimo e ele consegue construir uma deliciosa trama policial que não fica com nada a dever, por exemplo, a uma série como The Sopranos no quesito complexidade de personagens e motivações psicológicas para um comportamento destrutivo.

O traço de RM Guéra é lindo, beirando a perfeição. Lembra sim, o artista coreano Jim Lee, mas com uma maturidade que Lee ainda não conseguiu alcançar já que tornou o seu traço uma espécie de carimbo padronizado na indústria, um rascunho para seus finalistas terminarem, pois um produto acabado tomaria muito tempo.

A evolução da trama não permite concessões. Todos os personagens tem vários níveis de interesses na manutenção do status quo ou na destruição dele. Durante a série, prevista para sessenta números e atualmente caminhando para sua fase final nos EUA, eles irão se chocar.

Distante do universo de heróis ou de tramas conspiradoras cheias de camadas ou de armas quase místicas, Escalpo só cresce a cada arco e torna-se leitura obrigatória a quem acredita que quadrinhos pode sim, narrar qualquer trama.

Uma série que a Panini deveria dar ao leitor a oportunidade de vê-la encadernada na estante.