DC Comics, Uma Retrospectiva - Parte 2: A era de ouro

por John L. Censullo
Tradução de Ben Santana
Revisão da tradução, comentários, montagem de Jamerson Albuquerque Tiossi (jamersontiossi@yahoo.com.br)


Na primavera de 1938 os débitos do Major o pegaram e a Nicholson Publication Co., Inc. cessou de existir. Harry Donenfeld comprou a companhia e, junto com o seu contador J. S. Liebowitz, lançaram a Detective Comics, Inc.

Donenfeld e Liebowitz tinham pouca noção da importância de seu próximo título, uma revista originalmente planejada pelo Major, que seria chamada de Action Funnies. Donenfeld contatou M.C. Gaines (que agora estava trabalhando para o McClure Syndicate) procurando material para o primeiro número de sua nova revista. Gaines tinha em sua mesa uma proposta para uma tira de jornal muito “crua” chamada "Superman", um conceito que Siegel e Shuster tinham conjurado em 1933 e vinham desesperadamente tentando vender por anos. O "Superman" deles tinha influência dos míticos Hércules e Sansão, dos heróis de "pulp" Doc Savage e o Sombra, e o romance de 1930 escrito por Philip Wylie, "Gladiator"[1].

Nem Gaines nem os representantes do McClure achavam a tira grande coisa. Apenas depois de ser incitado pelo seu assistente Sheldon Mayer, que viu grande potencial na tira, Gaines a sugeriu para Donenfeld. A história foi mandada para o editor Vincent Sullivan. O Superman aparecia na capa, e como história principal, do primeiro número de Action Comics (datada de Junho de 1938).

Quando Donenfeld viu a capa, com o Superman levantando um carro sobre a sua cabeça, ele ficou preocupado que ninguém acreditasse em algo tão ridículo. De fato, as próximas capas nem mesmo mencionavam o Superman! Os jovens leitores não foram tão lentos em se tocar como os adultos na DC. Eles reconheceram o Superman como algo diferente, algo especial. Com a introdução do Superman, nascia o conceito do super-herói. Aquele primeiro número também apresentava Zatara, o Mágico de Gardner Fox e Fred Guardineer, e Tex Thompson[2], que posteriormente vestiria um uniforme e tornar-se-ia o Mr. America.


Detective Comics #20
(datado de Outubro de 1938) apresentava o Crimson Avenger, um herói encapuzado criado pelo escritor Jim Chambers à imagem do Besouro Verde, um herói do rádio desde 1936. Assim como o Besouro Verde tinha Kato, o Crimson Avenger tinha um jovem companheiro chamado Wing. O Crimson Avenger mais tarde seguiria a moda dos super-heróis e trocaria seu sobretudo por uma malha colante.

No final de 1938, M. C. Gaines entrou em um acordo para produzir uma série de títulos publicados sob o manto da DC. Os títulos iniciais, editados por Sheldon Mayer, eram Movie Comics e All-American Comics (ambos apareceram com a data de capa de Abril de 1939). Apesar de All-American mostrar algum material original (incluindo a tira Scribbly de Mayer), muito da revista era composta de reprints de jornal, e não haviam super-heróis. Gaines disse a Mayer que o público não se interessaria por mais personagens com uniformes. Pouco ele sabia, realmente.

No início de 1939, o primeiro número de New York World's Fair Comics (datado de 1939) foi publicado. Esse número apresentava o personagem chamado Sandman, de Gardner Fox e Bert Christman. Essa seria a primeira grande série de Fox, mas dificilmente a sua última. (Mesmo que muitas fontes tentem resistir aos fatos, Sandman apareceu aqui antes de se estabelecer em Adventure Comics, no #40). Esse número também mostrava o Superman, Zatara e outros.

Quando o editor Whitney Ellsworth chamou o artista Bob Kane para criar outro herói para a DC, Kane começou logo o trabalho[3].

Sua criação combinaria aspectos de heróis dos "pulps" como o Sombra, Doc Savage e The Spider, e seria altamente influenciado pelas aventuras do maior dos detetives, Sherlock Holmes. Kane baseou a imagem de seu novo personagem no vilão do filme de 1926, "The Bat", e usaria o ator Douglas Fairbanks Sr. como sua inspiração. Com o escritor Bill Finger, Kane introduziu o próximo grande super-herói, o Batman, em Detective Comics #27 (datado de Maio de 1939).

Batman era sombrio e misterioso, um enorme contraste ao colorido Superman, e foi um sucesso imediato. O interessante é que a origem de Batman não seria revelada por outros seis meses.

O ano de 1939 também viu a introdução da primeira edição trimestral mostrando um único personagem. Superman (datada do Verão de 1939) começou compilando e reimprimindo as histórias do Superman de Action Comics, mas a partir do número 4, a revista Superman mostrou material totalmente novo[4].

Quando Gaines planejou o seu próximo título, no final de 1939, era mais que aparente que as crianças estavam mais que dispostas a apoiar os super-heróis. A Fox Publications tinha lançado Wonderworld Comics, Mystery Men Comics e Fantastic Comics. A Centaur Publications produziu Amazing Man Comics. A Timely Comics publicou Marvel Mystery Comics, logo chamada Marvel Comics (que depois a companhia adotaria como seu nome).

Em resposta a demanda de mais super-heróis, Gaines criou Flash Comics (datada de Janeiro de 1940), onde ele introduziu duas novas grande forças, o Flash e Hawkman. Editada por Sheldon Mayer, muito deste novo título era escrito por Gardner Fox. Na verdade, os únicos personagens que Fox não criou naquele primeiro número foram Johnny Thunder e The Whip. O Flash era de Fox e Harry Lampert, e Hawkman de Fox e Dennis Neville. Johnny Thunder era de John Wentworth e Stan Aschmeier.

Um concorrente da DC que merece menção é a Quality Comics, que tinha feito a sua primeira investida no gênero de super-heróis em 1939 com Smash Comics e Feature Comics.

Os personagens da Quality seriam mais tarde comprados pela DC após a companhia cessar a sua publicação em 1956, continuando títulos como Blackhawk e G. I. Combat sem interrupção.

No final de 1939, outro concorrente, a Fawcett Publications, introduziu um super-humano chamado Capitão Marvel na Whiz Comics. A DC logo processaria a Fawcett por infringir o copyright da sua propriedade Superman, um processo que se arrastaria por anos. Ironicamente, a DC acabaria comprando os direitos do Capitão Marvel e da Família Marvel e, no final de 1972, orgulhosamente reintroduziria os personagens em um título chamado Shazam!

Uma revista chamada Double Action Comics #2 (datada de Janeiro de 1940), possivelmente pretendida como um brinde, foi também produzida em 1939. Era um título único de 64 páginas, em preto e branco, cujo conteúdo consistia de material de reprint pré-heróis e cuja capa era idêntica a Adventure #37. O número 1 foi um ashcan que nunca foi distribuído.

More Fun Comics #52 (datada de Fevereiro de 1940) introduzia o Espectro (The Spectre), um oficial da polícia assassinado que foi trazido de volta como um fantasma por uma Voz Divina para combater o mal. A história da origem do Espectro não seria concluída até o número seguinte, onde o herói começaria a sua vida dupla, como policial e vingador espectral. O Espectro era escrito por Jerry Siegel e desenhado por Bernard Baily.

Adventure Comics #48 (datada de Março de 1940) apresentava o Homem-Hora (The Hour-Man), de Bernard Baily, sobre um herói que dependia de uma pílula para obter seus poderes temporários.

O cavaleiro das trevas chamado Batman ganhou um parceiro colorido, Robin, o Menino Prodígio, em Detective Comics #38 (datado de Abril de 1940). A idéia era que as crianças poderiam se identificar melhor com um personagem próximo de suas idades. Se esse foi realmente o caso é discutível, mas ainda assim, a DC começou uma tendência que seria copiada por muitos de seus concorrentes. Bob Kane modelou o uniforme da criança no de Robin Hood, daí o nome do personagem. Bill Finger via Robin como o Watson de Sherlock Holmes, alguém que o Batman poderia conversar, então permitindo aos criadores revelarem os pensamentos do herói para o leitor.

No início de 1940, a segunda estrela da DC ganhou a sua própria edição trimestral. O primeiro número de Batman[5] (datado da Primavera 1940) introduzia dois dos maiores inimigos do Batman, o Coringa e a Mulher-Gato. O artista Jerry Robinson insistia que o Coringa era apenas de sua criação. Bill Finger lembrava ter mostrado a Bob Kane a foto do livro "The Man Who Laughs"( O Homem que Ri), apresentando o sorriso horrível e desfigurado do ator Conrad Veidt, que se tornou a base para a assustadora aparência do Coringa[6].

O segundo e final número de New York World's Fair Comics (datado de 1940) foi publicado no início daquele ano. Ele mostrava o Superman, Batman, o Homem-Hora, Sandman, Zatara e outros.

More Fun Comics #55 (datado de Maio de 1940) introduziu o Senhor Destino (Doctor Fate), de Gardner Fox e Howard Sherman, que mostrava um homem que vestia um capacete dourado habitado pelo espírito de um antigo mago.

Em All American Comics, Gaines sucumbiu a febre dos super-heróis, e no número 16 (datado de Julho de 1940) ele apresentou o Lanterna Verde. Desenhado por Martin Nodell, o Lanterna Verde era vagamente baseado no conceito de Aladim e sua lâmpada mágica. Bill Finger, que foi escolhido como escritor do novo personagem, sugeriu Alan Ladd como a identidade secreta, um trocadilho com Aladim. Sheldon Mayer pensou que ninguém acreditaria nisso, e mudou o nome para Alan Scott. (ao contrário de algumas fontes, o primeiro filme de Alan Ladd não foi This Gun For Hire em 1942. Ladd apareceu em muitos filmes antes deste, incluindo Pigskin Parade em 1936.)

Uma das criações mais duradouras de Sheldon Mayer foi All Star Comics (datada do Verão de 1940). Ela começou como uma revista trimestral e juntava heróis tanto das divisões DC quanto All American da companhia[7]. Precisaria de outros seis meses antes do potencial desse título ser totalmente percebido.

All American Comics #19 (datado de Outubro de 1940) apresentou o poderoso e diminuto Átomo (Atom)[8].

Em All American Comics #12 (datado de Novembro de 1940), o amigo de Scribbly, Ma Hunkle, torna-se a Tornado Vermelho[9].

O terceiro número de All Star Comics (datado do Inverno de 1940) introduziu a primeira equipe de super-heróis, a Sociedade da Justiça da América. O membros da SJA eram o Flash, Hawkman, Sandman, Átomo, Espectro, Dr. Destino, Lanterna Verde e Homem-Hora. Essa série maravilhosa era escrita por Gardner Fox[10].

Action Comics #33 (datada de Fevereiro de 1941) introduziu o Mr. America, anteriormente o civil chamado Tex Thompson, que estreou no número 1.


World's Best Comics
(datado da Primavera de 1941) chegou às bancas no início de 1941, e foi renomeado para World's Finest Comics no segundo número. Esse título permitiu que a DC mostrasse seus dois personagens mais populares, o Superman e o Batman em outra de suas revistas[11].

All American Comics #25 (datado de Abril de 1941) introduziu o Dr. Meia-Noite (Dr. MidNite), um médico que ficou cego e então descobre que ele pode ver no escuro.

Adventure Comics #61 (Abril de 1941) introduziu Starman, de Gardner Fox e Jack Burnley, sobre um cientista que inventa um bastão gravitacional que permitia que o usuário voasse.

All American Comics #26 (Maio 1941) introduziu Sargon, o Mágico[12], cujo poder era derivado do seu Rubi da Vida.

A namorada de Hawkman torna-se a Hawkgirl pela primeira vez em All Star Comics #5 (Junho-Julho 1941).

Seguindo uma pesquisa dos leitores em All Star Comics, o Flash foi escolhido a ter sua própria edição trimestral. O velocista saiu da Sociedade da Justiça para ser mostrado em All Flash Quarterly (Verão de 1941).

Adventure Comics #66 (Setembro de 1941) introduziu The Shining Knight, inicialmente desenhado por Creig Flessel. Essa série era o reverso de "Connecticut Yankee"[13], onde um cavaleiro da corte do Rei Arthur acorda no século XX.

More Fun Comics #71 (Setembro, 1941) introduziu Johnny Quick, que simplesmente tinha que dizer a fórmula mágica 3X2 (9YZ) 4A para se tornar um super-velocista[14].

Outra pesquisa entre os leitores em All Star Comics levou um segundo herói a ganhar seu próprio título. O Lanterna Verde também renunciou sua posição na SJA e foi mostrado em Green Lantern (Outono de 1941).

A próxima entrada da DC no mercado foi Star Spangled Comics #1 (Outubro de 1941), uma revista que supostamente era o resultado de uma cuidadosa pesquisa para saber o que os leitores queriam. Eles estavam tão por fora que no sétimo número o título foi revisado. O primeiro número introduziu Star-Spangled Kid & Stripesy, que tinham sido mostrados em um promo de três páginas em Action Comics #40. Essa série de Jerry Siegel e Hal Sherman era única porque o menino era o chefe e o adulto o parceiro![15] Também introduzido no primeiro número foi o Tarântula. Essa criação de Mort Weisinger foi um protótipo do Homem-Aranha, da mesma forma que The Spider, dos "pulps" foi o protótipo do Tarântula.

Action Comics #42 (Novembro de 1941) introduziu o Vigilante, de Mort Weisinger and Mort Meskin, sobre um trovador das pradarias que combatia o crime. O Vigilante foi auxiliado primeiro pelo velho Billy Gunn, e depois por Stuff, The Chinatown Kid.

More Fun Comics #73 (Novembro 1941) introduziu tanto Aquaman quanto o Arqueiro Verde. Aquaman, de Mort Weisinger e Paul Norris, foi a resposta da DC para Namor, da Timely. O Arqueiro Verde e Ricardito (Speedy) era também de Weisinger, mas desenhado por George Papp.

Sandman trocou seu capote e máscara de gás por malhas colantes, e arrumou um parceiro chamado Sandy, O Garoto Dourado, em Adventure Comics #69 (Dezembro, 1941)[16]. Essa série foi inicialmente desenhada por Paul Norris. Entretanto, depois de meros três números, Joe Simon e Jack Kirby assumiram a série.

O formato All Star foi tão bem sucedido em All American que a fórmula foi repetida na linha DC. Leading Comics #1 (Inverno de 1941-42), introduzia a segunda equipe de super-heróis da companhia, os Sete Soldados da Vitória. Eles consistiam de Star-Spangled Kid & Stripesy, The Shining Knight, O Vigilante, Arqueiro Verde & Ricardito, e The Crimson Avenger. O parceiro de Crimson Avenger, Wing era considerado um oitavo membro não oficial. É claro que eles não eram a Sociedade da Justiça[17].

All Star Comics #8 (Dez 41-Jan 42) introduziu a primeira verdadeira heroina poderosa, a princesa Amazona chamada Mulher Maravilha. Por mais embaraçoso que fosse, a Mulher Maravilha, um dos membros mais fortes da Sociedade da Justiça, foi relegada a posição de secretária.

O último título mensal de Gaines-Mayer foi Sensation Comics (Janeiro, 1942), que tinha como série principal a Mulher Maravilha, logo após a sua estréia em All Star Comics. A Mulher Maravilha foi criada pelo Dr. William Moulton Marston, que escrevia sob o pseudônimo de Charles Moulton, que surgiu com a junção do seu próprio nome do meio e o de Gaines. O Dr. Marston, um psicólogo e criador do detetor de mentiras (polígrafo), queria criar um personagem feminino com toda a força do Superman, mais toda a fascinação de uma boa e bela mulher. O artista Harry G. Peter trouxe o personagem de Marston a vida.

O Pantera (Wildcat), de Bill Finger e Irwin Hasen mostrava as aventuras de um boxeador que tinha se tornado um herói. Mr. Terrific, de Charlie Reizenstein e Hal Sharp, era estranho já que a história começa com o pretenso herói a beira do suicidio. Duas outras séries de interesse eram Gay Ghost e Little Boy Blue & the Blue Boys.


Detective Comics #60
(Fevereiro, 1942) introduziu Air Wave, sobre um personagem que tinha dominado a energia elétrica e podia patinar nos fios de alta tensão. Essa série, de Mort Weisinger e Lee Harris, também mostrava um tipo diferente de companheiro, Static, o papagaio.


World's Finest Comics #5
(Primavera de 1942) introduziu uma equipe de combatentes do crime explosiva chamada T.N.T. & Dan the Dyna-Mite, que então se mudaram para aparições regulares em Star Spangled Comics, começando no número 7.

Joe Simon e Jack Kirby, atraídos da Timely Comics, desenharam a capa de Star Spangled Comics #7 (Abril, 1942) e introduziram a esperta Newsboy Legion (Legião Jovem). Esses garotos arruaceiros tinham como mentor um herói chamado de, apropriadamente, o Guardião. Também foi introduzido nesse número o Homem-Robô (Robotman), de Siegel e Shuster, uma vítima de assassinato cuja mente foi salva e colocada no corpo de um robô[18].

Adventure Comics #73 (Abril de 1942) introduziu o Caçador (Manhunter), outra série de Simon e Kirby. Inicialmente foi dito que a identidade secreta do Caçador era Rick Nelson, mas por alguma razão o nome logo foi mudado para Paul Kirk. Curiosamente, um detetive chamado Paul Kirk vinha aparecendo em Adventure desde o número 58. Esse aventureiro original foi criado por Ed Moore, mas aparentemente não era conectado de forma alguma com esse novo Paul Kirk.


Detective Comics #64
(Junho, 1942) introduziu The Boy Commandos, outra criação de Simon e Kirby, sobre um grupo de garotos durões que ajudavam os Aliados na sua batalha contra os nazistas. Eles lutavam sob o olhar vigilante do Capitão Rip Carter.

Depois de ter sido apresentada apenas seis meses antes, a Mulher Maravilha ganhou seu próprio título trimestral, Wonder Woman (Verão de 1942).

Boy Commandos #1 (Inverno, 1942-43) introduziu Liberty Belle, uma heroina patriótica criada por Don Cameron e Chuck Winter.

O grupo The All American iniciou uma grande revista econômica no final de 1942 chamada Comic Cavalcade (Inverno, 1942-43), um título trimestral de 96 páginas a $0.15. Esse título mostrava virtualmente todos os personagens do grupo All American.

Uma grande amostra de edição única, The Big All-American Comic Book (1944), custou $0.25 e tinha 128 páginas, e é memorável porque traz o primeiro trabalho de Joe Kubert em Hawkman. Esse número também mostrava a Mulher-Maravilha, o Flash, Lanterna Verde, o Átomo e outros.


More Fun Comics #101
(Jan-Fev 1945) apresentou uma série, do escritor Don Cameron, chamada Superboy, sobre as aventuras do Superman quando ele era menino. Esse foi provavelmente o primeiro exemplo de continuidade retroativa nos quadrinhos. Nos sete anos anteriores não existia nem sequer uma pista que o Superman tinha tido qualquer aventura antes dos eventos de Action Comics #1, e certamente nenhuma quando criança! Superboy ganharia sua própria revista, Superboy #1 (Março-Abril, 1949), quatro anos mais tarde[19].


No final de 1944, em parte por causa das disputas com Jack Liebowitz, Gaines vendeu sua participação na companhia e partiu para iniciar a EC Comics, deixando o controle da linha All-American para Liebowitz. (A EC logo ficaria famosa por suas revistas de horror, como Tales From The Crypt, e logo produziria o satírico Mad Magazine, que sobrevive até hoje[20]).As linhas DC e AA foram finalmente reunidas em uma só e renomeadas National Periodicals Publications, Inc. Por causa da familiaridade do logotipo DC pela parte dos leitores, as revistas continuaram a usá-las em suas capas. Sheldon Mayer deixaria de ser editor em 1948 e retornou ao seu primeiro amor, o cartum.

Os super-heróis não eram as únicas coisas que vinham das linhas DC e All-American.
Em 1939, Gaines tinha começado uma revista de Mutt & Jeff, utilizando os personagens populares que tinham aparecido em tiras de jornal anos atrás. Em 1942, Gaines tinha publicado Picture Stories From The Bible. All Funny Comics tinha saído no final de 1943, mostrando Genius Jones, Buzzy, e outros. Gaines tinha publicado Funny Stuff em 1944, mostrando The Three Mouseketeers e The Terrific Whatzit.

No final de 1944, Buzzy saiu de All Funny. No início de 1945 iniciou-se a Real Screen Funnies, renomeada Real Screen Comics no número #2, que mostrava Fox & Crow e Flippity & Flop.

Também em 1945, Gaines, que estava no processo de iniciar a EC Comics, produziu a Picture Stories From American History com a DC. (Em 1947, Gaines publicaria o último de sua trilogia de títulos "Picture Stories", Picture Stories From World History, exclusivamente sob a sua bandeira EC[21]).

Depois da Segunda Guerra Mundial, o interesse em super-heróis começou a desaparecer.

Flash Comics e Green Lantern foram cancelados em 1949. All Star Comics #57 (Fev-Mar 1951) foi o último número a ter a participação da Sociedade da Justiça da América, mudando o formato no número seguinte para o tema western.

Dos títulos originais da Era de Ouro, apenas Action Comics, Adventure Comics, Batman, Detective Comics, Superboy, Superman, Wonder Woman e World's Finest Comics continuaram a mostrar as aventuras de super-heróis. Todos os títulos remanescentes mudaram para western, romance ou animais engraçados. Somente em 1956 que o interesse nos super-heróis viu outro “boom”, com uma nova versão do Flash em Showcase #4. Mas essa é uma história para outro post.
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Referências:
1. Ron Goulart's Great History Of Comic Books © 1986 by Ron Goulart

2. Comics: The Golden Age - The History Of DC Comics - Fifty Years Of Fantastic
Imagination © 1987 by Schuster & Schuster, Inc.

3. Howard Keltner's Index To Golden Age Comic Books © 1976 by Jerry Bails

4. The Steranko History Of Comics, Volume One © 1970 by Jim Steranko

5. The Steranko History Of Comics, Volume Two © 1972 by Jim Steranko

6. The Overstreet Comic Book Price Guide, 28th Edition © 1998 by Gem Publications, Inc.
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[1] Fica claro neste parágrafo duas verdades: a) Superman apesar de só publicar em 1938 havia sido criado em 1933, ou no mínimo tido seus primeiros esboços neste ano; b) Como a criação do personagem não foi encomendada pela empresa surge aí o motivo para a batalha judicial pela revisão dos direitos autorais do Superman.

[2] Tex Thompson teria uma relevância toda especial para os leitores saudosistas da DC Comics na década de 1990, já que ele seria um dos personagens principais da excelente série The Golde Age (A Era de Ouro, Metal Pesado Editora).

[3] Fica claro neste parágrafo que Batman foi encomendado à Bob Kane.

[4] Surge então a segunda série do Superman, que no início foi trimestral (uma edição para cada estação do ano), depois bimestral, em seguida um formato muito semelhante ao mensal com 08 edições anuais, para enfim o formato mensal. No número # 423, janeiro de 1987, a série altera seu nome para The Adventures of Superman. Com Crise Infinita (2005) retornaria ao primeiro nome, hoje aproximado da 700ª edição.

[5] Assim como Superman (1º volume), a série Batman, tornaria-se bimestral e logo mensal.

[6] Nota-se claramente neste parágrafo que Bob Kane era apenas um gerente de idéias dentro de seu estúdio e agia como vendedor para a DC Comics, que certamente na época pedia o volume de história em páginas: “Dê-me 40 páginas!”, “Dê-me 100 páginas para uma edição especial!”, etc.

[7] Fica claro que a DC Comics era uma empresa dividida em selos onde os personagens nem sempre encontravam-se num esquema muito semelhante ao conceitos de selos que existem hoje: DC Universe, Vertigo, Piranha Press, além dos já finados Helix e Milestone.

[8] Não confudir com o segundo personagem chamado Atom da DC Comics que é conhecido no Brasil como Elektron. Este Átomo também esteve presente na série A Era de Ouro (The Golden Age) e recentemente esteve presente em Liga da Justiça # 81, na aventura “Terra-2”.

[9] Não confundir com o andróide Tornado Vermelho, ex-membro da Justiça Jovem e da atual membro Liga da Justiça

[10] Fica fácil arriscar quais personagens pertenciam à divisão All American da DC Comics após este parágrafo.

[11] Apesar disto a proposta original do título não era apresentar aventuras de encontros de Batman & Superman, que só se encontraram realmente em uma aventura do número # 71 (julho/agosto de 1954) da série.

[12] Ou Sargon, o místico.

[13] N.T.: "Connecticut Yankee", de Mark Twain é um livro onde um americano do século XIX acorda no tempo do Rei Arthur.

[14] O personagem ressurgiria no título The Flash (2º volume) por volta do número 100, junto com sua filha Jesse Quick, que também utiliza a fórmula. Após a morte de seu pai (inédito no Brasil), Jesse Quick esteve presente na série The Titans.

[15] Exatamente como a série recente que Geoff Johns criou para a DC Comics, antes de tornar-se o escritor titular de JSA, após a revitalização em 1999/2000.

[16] Claro que com esta troca, troca-se também o tom da série que muda de mistério/detetive/vigilante para heróis. Sandman só retornaria ao clima de mistério em Sandman Mistery Theatre na década de 1990, já no selo Vertigo.

[17] Com esta segunda equipe fica claro duas coisas: a) os personagens All American eram membros da Justice Society of America, já os personagens da linha DC eram membros dos Seven Soldiers of Victory; b) Batman e Superman eram donos de “universos” próprios e estariam livres para transitar ou encontrar com os personagens dos selos, ainda que isto demorasse a acontecer.

[18] Robotman tem apenas os conceitos semelhante à origem de Cliff Steel da Patrulha do Destino, mas são personagens distintos.

[19] Note que na capa de More Fun Comics # 101 não há nenhuma chamada especial para a série do Superboy, apesar de haver chamada para outros personagens hoje considerados menores. A série certamente não teria continuidade se não houvesse o sucesso.

[20] Talvez até ironicamente, já que Mad é publicada pela DC Comics.

[21] Vale lembrar que EC Comics era “Education Comics”, e só mudaria para “Entertaiment Comics” quando Gaines morre e seu filho assume a empresa, iniciando a publicação de história de terror.